A Cannabis sativa é uma planta com flor anual e inúmeras variedades botânicas. Esta planta contém mais de 500 compostos químicos sendo que, destes, mais de 120 são terpenofenóis, também designados de fitocanabinóides. Entres eles, os mais conhecidos e estudados são o canabinol psicoativo ∆9-tetrahidrocanabinol (THC) e os não psicoativos: canabidiol (CBD), canabigerol (CBG), canabicromeno (CBC) e canabidivarina (CBDV).1
Para entender o valor terapêutico desta planta, é necessário compreender a diferença entre marijuana e cânhamo. Ambas pertencem à mesma espécie de planta, a Cannabis sativa, mas diferem botanicamente ao nível da subspécie. C. sativa subsp. indica é o nome científico para a marijuana, enquanto C. sativa subsp. sativa é o do cânhamo, e distinguem-se essencialmente pela quantidade de THC, presente em quantidades muito superiores na marijuana, conferindo-lhe propriedades medicinais. Contudo, de acordo com a regulamentação europeia, apenas é permitida a comercialização de canabis ou de produtos contendo canabis que tenham um teor máximo de 0,2% de THC.2
O cânhamo, devido à sua natureza não psicoativa, ao seu teor nutricional e à sua fácil acessibilidade em vários países, tem gerado um interesse crescente, já que se trata de uma cultura versátil, que pode ser cultivada em altas latitudes e usada para produzir alimentos, têxteis, roupas, plásticos biodegradáveis, papel, tintas, biocombustíveis, ração animal e até óleo para iluminação.3 Este produto é ainda comercializado e consumido pela população, devido aos seus prováveis efeitos benéficos para a saúde, seja pela presença ou não de CBD na sua composição.2
Recentemente, também tem surgido cada vez mais evidência que aponta para os benefícios farmacológicos dos compostos ativos não canabinóides presentes no cânhamo. A sua semente representa uma valiosa fonte de ácidos gordos essenciais, minerais, vitaminas e fibras, bem como aminoácidos essenciais presentes na edestina e albumina, duas proteínas facilmente digeridas.3 Esta é composta aproximadamente por 30 a 50% de óleo, sendo que, desses, 80% correspondem a ácidos gordos insaturados, como os ácidos linoleico, alfa-linoléncio e oleico. Comparando com outros óleos vegetais, o óleo de sementes de cânhamo é o que apresenta maior proporção de ácidos gordos polinsaturados, sendo estes benéficos ao nível da redução do risco de doenças cardiovasculares, cancro, hipertensão e doenças inflamatórias e autoimunes. Além disso, este óleo contém ainda fibras dietéticas solúveis e insolúveis, como a celulose, hemicelulose e a lignina, que ajudam ao nível da regulação do trânsito intestinal.1
Adicionalmente, considerando as propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias dos diferentes compostos presentes na semente do cânhamo, vários estudos estão a ser realizados no sentido de perceber se a suplementação com este composto poderá melhorar situações de saúde caracterizadas por inflamação crónica e stress oxidativo excessivo, como acontece em diversas doenças neurodegenerativas.4